quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ela sem ele

Naquele fim de semana ele viajou. Ela resolveu passear. Prestou atenção ao atravessar as ruas. Andou um longo caminho que poderia ter sido traçado de carro. Não parou nas vitrinas para olhar roupas e não atendeu ao celular no meio da rua. Falou baixo e procurou ser discreta ao que dizia ao telefone. Comeu sem um refrigerante para acompanhar. Guardou os óculos de grau em seu devido lugar. A noite prestou atenção em tudo com cuidado para não ser assaltada. Resolveu tirar aquela música no violão. Não assistiu filme repetido, tentou um novo. Acordou cedo para curtir o dia. Arrumou a cama. E quando percebeu o final de semana estava chegando ao fim. Ele chegou. Ela sorriu. Eles se abraçaram. E ela disse sussurrando em seu ouvido que o amava e que ele tinha razão sobre quase tudo. Ele sorriu meio sem entender e respondeu com um beijo... Talvez ele nunca saiba que a sua ausência fez com que ela o amasse mais por dar valor a tudo que eles faziam juntos.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Estações da Vida



Escancarou-se o mundo a sua frente. Exatamente como haveria de ser. Não esperava que fosse tão cedo, tão rápido, tão intensamente fluindo. Daqui a um tempo, talvez. Não agora. Mas aconteceu, por um vacilo do destino, por um breve momento de ansiedade, que subitamente antecipou-se e desavergonhadamente revelou-se.

Agora estava ali, na sua frente. E diante de seus olhos, talvez nem ele acreditasse. Um equilíbrio instável tomou conta de si, em um limiar que a qualquer momento penderia para algum lado. Mas confiava na nova linha do tempo, a que fora redesenhada naquele instante, acreditava naquela nova ordem para os fatos.

Precisaria agir agora. E agiu.

Fez exatamente o que era pra ser feito e o que esperavam dele. Colocou os pontos em seus devidos lugares. Ordenou os planos na sequência determinada. E fez daquele outono, a melhor das primaveras.

Mas o universo, naquele momento, não conspirou a seu favor.

Por algum motivo que ele não conseguiria tão cedo entender. A vida tem dessas coisas, foi o que passou pela sua cabeça. Só mais um eufemismo para uma profunda decepção, internamente velada. Calou-se.

O mundo não estava preparado, ainda estava rodando e rodando e rodando e não mudaria seu curso para aquela ironia. Uma simples ironia. Não fora a vida que havia se antecipado diante de seus olhos, era ele quem estava em outra sintonia, inquieto como sempre. Ficou o aprendizado. Paciência é uma virtude que ainda estava desenvolvendo.

Há de aguardar o próximo outono, e esperar que as folhas simplesmente voem pelo seu caminho. Exatamente como há de ser...


Foto: [Marcela Condurú]

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Esse Rio é minha rua...

Uma homenagem do povo dos rios e iguarapés lá do Norte pro povo, que hoje aqui em São Paulo, viu as ruas virando rios...

ESSE RIO É MINHA RUA
( Paulo André e Ruy Barata )

Esse rio é minha rua,
minha e tua mururé,
piso no peito da lua,
deito no chão da maré.

Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.

Rio abaixo,
rio acima,
minha sina cana é,
só em falá da marditame
alembri de Abaeté.

Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.


Me arresponde bôto preto
que te deu esse pixé
foi limo de maresia
ou inhaca de mulhé.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Rotina Paulistana

Segunda-feira, no metrô pessoas sempre cheias de pressa, cara amarrada, com aspecto cansado e ar mal educado. Essa é a figura diária do paulista, na minha concepção. E sempre achei que fosse ficar imune a essas coisas.
Depois de 2 dias enfrentando, com chuva, o trânsito da marginal do Tietê, chegando em casa tarde da noite e tendo que acordar cedo no outro dia. Sinto na pele os “sintomas” que qualquer paulistano sente. Essa cidade é louca e se deixar enlouquece a gente.
O Tempo aqui se conta em horas... Horas no trânsito, horas de um lugar pra outro, hora pra trabalhar, pra encontrar o namorado. A cidade te engole junto com o horário. 24h parece pouco, mal da pra pensar.
A semana voa e o final de semana chega pra lembrar que as pessoas têm vida própria. A Cidade fica diferente o céu chega a ficar um pouco azul, os passarinhos cantam e as pessoas fazem até a proeza de sorrir de vez enquando.
Sábado e domingo são, para São Paulo, aquela respiração profunda e pensativa que a gente dá antes de retomar alguma tarefa...
Ai a segunda-feira chega e no metrô pessoas cheias de pressa, cara amarrada, com aspecto de cansaço e ar mal educado...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A vida é quase assim


Quase sou santo. Teria um perfil exato pra exercer todo um potencial celestial, se assim podemos dizer. Realmente poderia servir de exemplo, não fossem meus erros cada vez mais crassos, não fossem os palavrões que costumo proferir em alto estilo , não fossem as pragas que rogo aos bons filhos das putas desse mundo. Por uma vírgula talvez fosse santo, mas quase. Ahh se não fossem as tentações, que não deixo de ceder nem com reza.

Quase sou esperto. Sei de tudo que acontece ao meu redor, de todas as teorias que inventam, de todas essas artimanhas existentes. Posso facilmente convencer quem eu quiser, do jeito que eu quiser. Mas essa mania de quase confiar nas pessoas põe em xeque minha expertise. Cinco senhores vestidos de terno com risca de giz e chapéu, carregando malas de couro e empunhando armas nem sempre quer dizer que fazem parte de uma máfia. Ahh se não fossem essas aparências tão enganosas e essas teorias tão falhas.

Quase me apaixono. Ia me deixar levar por aqueles olhos tão doces e meigos, aquele sorriso tão espontâneo, aquele encanto tão natural. Poderia lhe dizer aquela música que me veio à mente na hora, que combinava perfeitamente com toda essa situação. Poderia lhe falar as palavras que teimavam em formar uma poesia. Decidi que era melhor deixar isso pra uma outra hora. Ahh se não fosse essa paralisia momentânea, que me deixa sem reação e bloqueia meus sentimentos.

Quase me distraio. Por um breve segundo deixei passar algumas oportunidades. Perdi o final da piada, mas não me acanhei ao riso da plateia, já que era só um final. Deixei de ver o gol, mas que se dane, não perdi a comemoração. Por um único instante não me atentei ao sorvete caindo na roupa, à cratera na calçada, ao copo derramando, ao poste no meio do caminho. Ahh se não fossem os detalhes.

Quase sei me definir, quase me definem, quase tenho opinião formada, quase tenho certeza, quase sei a receita, quase acertei, quase me molhei, quase escrevi, quase mandei, quase sorri, quase me entreguei, quase sou idiota, quase me acharam, quase achei bonita, quase sou irônico, quase sei cuidar, quase beijei, quase caí, quase consegui, quase sei o que é certo, quase sei que vai dar errado, quase sou assim...

É um contraponto entre o que pode ser e o que não é. É uma negação tímida do que se é. É certeza e é dúvida. Mais um eufemismo pra não se ter que falar a verdade constrangida e reveladora. É o pouco que falta tentando ser o inteiro. É uma invenção. É um álibi. Ahh se não fossem os quases...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Em homenagem

A muito tempo não escrevo nesse blog, e hoje resolvi contar a história de um personagem que passou pela minha vida e que infelizmente não foi eterno.
Uma pessoa com a incrível capacidade de puxar conversa e eu não to falando apenas de tagarelar sem parar (pois isso eu faço bem), mas de conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto.
Meu avô era assim. Fila de banco era a oportunidade perfeita para falar da sua bem sucedida cirurgia de câncer no estômago, feiras e filas de supermercados eram lugares propícios para perguntar qual era o caixa preferencial porque ele tinha duas pontes de safena e uma mamária e não podia ficar esperando... Conseguia arranjar afilhado tão quanto coelho faz filhotes. Era uma pessoa contagiante!
Os assuntos que o meu avô puxava eram dos mais variados e me impressionava a capacidade dele de saber que assunto puxar com cada pessoa. A política geralmente era com os taxistas (nunca vi um assunto melhor pra se falar com um motorista do que falar mal do prefeito), com as senhoras falava da aposentadoria e do preço caro das coisas.
Com os mais novos ele tendia ao saudosismo... Falava dos tempos áureos dele e de como ele aprontou nessa vida. Do primeiro emprego e de como subiu na vida e criou 3 filhos.
Cor de índio, olhos verdes, baixinho e abusado. Boemia era um dos seus sobrenomes, ele era uma mistura de hippie, punk, boêmio... Cecílio era o nome verdadeiro, mas era conhecido como Seu Popó, personagem de Chico Anísio que tenho certeza foi inspirado nele.
Brincávamos que as histórias que ele contava deveriam ser escritas num livro. Ele não levava a sério, acho que no fundo sabia que ficaria eternizado por suas histórias contada de maneira singular.
Com seu primeiro salário fechou um puteiro, a primeira vez que viu uma visagem levou porrada da mãe. Foi comissário de bordo na Real Aerovias, trabalhou como contra regra em teatro, já foi de Office boy a diretor de RH do antigo DR, hoje SETRAN. Sua mulher (minha avó) recebeu o corpo da Carmem Miranda no Brasil, tem um filho ator, irmãs loucas e uma família absurdamente unida. Viveu várias vidas numa só. E aproveitou ao máximo do que a vida ofereceu!
Hoje ele descansa das loucuras que fez e vive dentro de cada um que conheceu o personagens, ou pelo menos uma de suas histórias!


Ao meu avô, que foi e sempre será meu herói! Queria escrever tâo bonito quanto foi a sua história!

sábado, 19 de setembro de 2009

A Vida é feita de compras


Você é o que você compra, definitivamente. Aceita para sua vida aquele item, aquela ideia. Adquire a personalidade daquilo, o jeito, as cores, todos os atributos e descrições e perfis que vêm juntos na compra. Nada de metáfora aqui, estou falando de coisas. Coisa: s.f: Bem material de valor ou não.

Comprar pipoca no cinema é fácil. Você tá ali no balcão das comilanças e a atendente manda: “Mais $3,50 e leve o combo médio!!!”. Você nem pensa muito, no máximo dá uma olhada pra sua companhia, vendo se ela concorda. Pronto, é fácil deduzir que você adora uma promoção sem pensar. E tem aquele que chega na sala com um milk-shake de chocolate, com aquela calda escorrendo dentro do copo e ainda acompanhando um pacote de ruffles de cebola e salsa. Não é qualquer um que consegue fugir do clichê cinematográfico! É alguém que realmente decidiu o que queria comer naquele momento e que deve ser cheio de impulsos comestíveis ou, no mínimo, com manias suficientes para sempre comprar a mesma coisa.

E o que dizer de quem vai à feira, domingo de manhã, comprar verduras e legumes? A pessoa já passa dos 30. Só o fato de acordar cedo no dia mais preguiçoso da semana já denuncia o peso da idade. Se o indivíduo sai pra baladones no sábado, chega na madruga em casa e, ainda assim, levanta no outro dia pra ir comprar tomate e brócolis, é porque deve ter alguma coisa trocada nesse aí. “É que a hiperatividade bomba”, “Ahh, é que eu moro só”, “Que nada, é porque sou super saudável”. Isso tudo é eufemismo. Você tá velho meu amigo, aceite essa condição!

Há quem diga que só vai bem ali comprar cigarro e que nunca mais volta. Há aqueles que só compram cerveja, outros que são adeptos da vodka com redbull, do whisky, tequila com limão, caipirinha de morango... Dá pra perceber a personalidade do ser pelo nível da bebida que ele compra, porque comprar da cachaça mais barata e aquela tubaína de laranja já diz muito sobre você.

A livraria é um lugar seleto. Ou ao menos deveria ser. Chegue próximo a alguém e veja o livro que está segurando. De Agatha Christie a Paulo Coelho, passando por Harry Potter e Crepúsculo. Lamento, o livro que você compra praticamente escancara quem você é! Ninguém chega do nada e pensa, “Ahh, que vontade de ler ‘Teorias do universo em expansão’”. Ninguém! E se você lê “Os 127 passos para uma vida feliz!”, lamento mais ainda.

São coisas que a gente compra por aí e que definem um pouco do que a gente é. Se acabou de receber o salário e já pensa “Vou comprar aquele Box do ‘De Volta para o Futuro’”, possivelmente esse box vai se juntar ao do “Senhor do Anéis” na estante. Ou então se pensou “Ahh, vou tirar uns dias de férias na Polinésia Francesa”, você tem realmente muito a comprar e é bem capaz de trazer da viagem aquela prancha de surf como lembrança, que vai ficar o resto da vida encostada na sala.

E ainda tem aquele pensamento melhor ainda...“Não vou comprar nada!”. É, tem aqueles que não compram nada. Preferem poupar, pensar no futuro, fazer coisas em longo prazo ou absolutamente não abrem a mão! “Não vou pagar $1,30 num café!!! De jeito nenhum!!! Não vou!!!”, “Ahh, $4,50 só pra entrar??? Mas não mesmo!!! Só porque tem um carinha tocando uma música aí??? Não conte comigo!!!”

É, você é o que você compra. Ou o que você não compra. Definitivamente.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

HiperatiVIDAde


Vai, vai, escreve logo! Acaba com esse texto de uma vez! Anda, anda! Meu Deus, preciso comer alguma coisa! Cadê o que sobrou da pizza de ontem? Eu comi pizza ontem??? Nem sei. Nãããooooo, comi cachorro quente! Xi, odeio essa novela! Não sei como o povo assiste isso, pelamor! Volte pro texto, vai! Temos muito ainda pela frente! Putz, preciso ligar pra mãe! Mas ela nem deve tá em casa ainda! Oi mããããeeeee!!! Mentira, o telefone só chamou, tava só ensaiando como iria atender! HAHA Fiquei pensando na pizza agora! Noooossa, hoje é quinta em dobro!!! Fechooou, vai ser pizza mais tarde! Preciso chamar a galere! Eeeeee legal! Cancela o trabalho pooovo! Que TCC o queeee! Quinta em dobro! Quinta em DOBROOO!!! TCC fica pra TerçaChatadoCaralho! HAHA Ninguém curtiu a piadinha! Povo mais sem graça! Esse mundo vai pro brejo com esse mau humor! Ok ok, não foi nada pra rir! Eu que me divirto com bobagem mesmo! Ohh a novela chata aí de novo! TV ainda insiste no comercial! Caramba! Que saco! E o povo gosta ainda! Só não gostam da piadinha! HAHA Talvez eu não esteja de tão bom humor assim! Textoooo! Foco garoto, foco! E o dogão fica nessa preguiça! É brinnncadeira hein! Eu aqui doido pra brincar! Doido pra jogar a bolinha! Doido pra deixar a comida cair no chão! Doido pra levar ele pra passear! Mas nem rola! Chuva interminável lá fora! Tornado nervoso! Eu hein ! São Pedro quando se dana a tacar água pra essas bandas não tem pena! Só pra ficar preso em casa! Arrrgh! Quero ir lá fora tomar chuva! Vamo ? Vamo ? Vamo ? Quero ir pra praia! 3 semanas só bebendo e comendo e depois surfar ! Preciso montar meu bar na praia logo! Uma hora dessas eu taria lá! Numa rede, tomando saquerinha de tangerina e comendo uns bons camarões! Fica a dica! E esse texto vai ficar pra depois, quando tiver com mais calma! Calma garoto, respira! Ohh a pressão hein! Eeee vidão de mousse!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Vida é um Sonho

Às vezes, o sonho é tão real e tão realizador que a gente se recusa a acordar. É como se tudo que a gente esperasse ganhasse uma forma tão concreta, que a gente até agradece a graça. Tudo que a gente idealizou está ali, acontecendo, estamos vivenciando um momento sublime, o ponto alto de nossa breve história nisso tudo. Não que seja algo grandioso em feito, mas em importância.

É quando a realidade e os sonhos se misturam num emaranhado de emoções, que nos tornamos incapazes de distinguir o que é real ou o que simplesmente nossa mente inventou. Já estava escrito no sábio Dia do Curinga.

E degustamos aquele momento fantasioso, fantasticamente falando. Saboreamos cada detalhe, sensação por sensação. Aquele gesto fica marcante, o sorriso, a palavra... Você é capaz de ouvir até a trilha sonora impactante do clímax. Chamam-lhe ao palco, você é aplaudido de pé e recebe seu prêmio, sob a chuva de papel picado e às lágrimas e lágrimas e mais lágrimas da platéia. Você é o astro desse sonho. O mundo gira aos seus pés e nada mais tem importância. Parabéns!

Então acorda.

Acorda mas ainda não é capaz de digerir o real. Ainda está com as últimas percepções confortantes daquele que foi o momento de um dos maiores orgulhos da sua vida. Se pergunta se realmente não passou por tudo aquilo. Será que você anteviu ? Será que simplesmente manifestou o desejo do jeito que gostaria que acontecesse ? Mas o que poderia representar um desgosto enorme por tudo ter acabado e se desmanchado em crua realidade, se torna a esperança que você precisava pra seguir em frente. Porque tempos depois você ainda crê naquelas sensações, sabe que teve aqueles sentimentos por um instante e só há de esperar pela reedição daquela estação, pois tem a certeza que esteve exatamente onde queria estar... Sonhando.

domingo, 9 de agosto de 2009

Encontro da Vida

E ela chegou devastando tudo de novo.

_Eu não vou te deixar respirar dessa vez !

Foi súbito. Já me pegou de surpresa e nem era a primeira vez que isso havia acontecido. Não me preparei pra um tropeção desse inesperado.

_Você tem planos pra agora ? Adoro fazer você se perder de seus planos.

Não sabia mais como agir, ainda estava um tanto atordoado desde a última vez, ainda não tinha aprendido mesmo a lidar com essa situação. Já tinha me afogado nisso tudo.

_Adoro seu jeito de não conseguir me entender...

Sádica, como sempre. Fascinante, como nunca.

_ Não importa.

Eu sequer havia conseguido dizer uma única palavra, e ela já tinha se danado a falar e a falar e falar, de tal modo que eu já estava encurralado novo. Um instante em que tentei parar pra perceber aquela situação e ela já tinha me atropelado, em uma tal intensidade que o mínimo questionamento já não tinha mais fundamento. Lá estava eu, sufocado por ela.

_Lembra da última vez ? Você tentou me convencer, até falou coisas bonitas. Mas não, não passou nem perto de me deixar levar.

Não tive um único momento de simples contemplação. Não consegui parar com calma e reavaliar tudo. Ela nem me deu essa oportunidade, simplesmente ia atirando as coisas em cima de mim.

_Esse tipo de atitude nem sempre é o que a gente precisa. Já disse que não tenho pressa. É justamente nisso que você se perde...

Ela realmente se divertia com tudo isso. Até onde vão esses joguinhos ? Será que são ?

_Quer uma chance de me entender ? Me convide pra alguma coisa às 7.

São sim. Mas conheço alguns bons lugares pra dividirmos uma mesa.

_Só não ache que eu vá aceitar. Não tenho esse hábito. Já disse, não sou pra entendimento.

Se eu tinha algum pensamento que me desse orgulho, naquele momento, ele já havia tomado outro rumo.

_A gente se vê qualquer hora. Se cuida...

E foi assim que ela me transtornou de novo. Me provocando a pensar, quando, na verdade, o que ela quer é colocar à prova minha capacidade de improviso. É mesmo difícil conversar com a vida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dor de Cabeça

Sinto. Logo tenho, constantemente inclusive. E uma dúvida me persegue... Pesará a cabeça uma tonelada?

Caramba, uma tonelada de massa encefálica, neurônios... Se isso significar inteligência, vou ter como desculpa para minha irritação uma rebeldia incompreendida de gênios da humanidade.

Ai dor, serás patológica? Dor que algum tumor maligno causa em minha cabeça... Ou és apenas fruto da minha imaginação fértil que faz peso? Uma tonelada de imaginação fértil. Imaginação doída de se ter.

Mas dor... E se fores sentimental? De fundo psicológico? Daí não tem a justificativa de porque a cabeça pesa, ou então é justamente o “peso na consciência” de não ter feito ou ter feito algo. Arrependimento pelo não feito (pior arrependimento que existe) ou pelo feito, que também é um peso meio ruim de ter.

Mas se for psicológico, de uma coisa tenho certeza. A dor de cabeça é bem mais persistente que eu. Bem mais...

Então descobri, afinal, a cura. Aliás, eu remediei. Tomei uma pílula milagrosa que me fez parar de pensar em algo patológico e psicológico e me deu sono... Dormi e dessa vez não sonhei e nem fiz nenhuma teoria mirabolante sobre o que no momento parecia que ia ter fim.

Solução para essa dor? Lógico que tem. Jogue fora sua cabeça e compre outra nova e mude novamente toda vez que a dor for iminente. Ou então desista da sua cabeça meu amigo, pois certamente ela irá doer algumas vezes na vida. É... Nada tem só seu lado bom... Quer alguma pílula milagrosa pra isso? Eu também quero!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vida Nômade

Ser sedentário é fácil, é muito além de um hobby. Já o nomadismo é para poucos. Nômade, é o que tenho tentado ser. Que fique claro que não estou falando do sedentarismo propriamente dito, não estou falando dos meus surtos eternos de preguiça ou a grande disposição que tenho de passar horas numa rede. Tcs tcs, nada disso.

Estou falando de mudar a rotina. Ir de encontro ao novo, com as coisas mais simples. Chegar numa pizzaria e ao invés de optar pela pizza de sempre, de peito de peru com catupiry, pedir uma de strogonoff, por exemplo. Não quero sentir o mesmo gosto toda vez, com a mesma soda com gelo e limão. Se você não faz questão mais nem do cardápio, acho que tá na hora de rever os conceitos.

Trocar o supermercado do lado de casa e ir num um cadin mais distante, só pra ver o que há de diferente na estrutura, nos produtos, na disposição dos corredores. Não quero entrar no lugar, seguir em frente, virar à direita e seguir em frente novamente até a segunda fileira de prateleiras, pra pegar o macarrão. Dá pra fechar o olho e ir colocando as coisas no carrinho. Não quero encontrar a mesma moça simpática de mais ou menos 1,60m, de aparelhos nos dentes e que vive com o cabelo preso. Ok, essa moça é de praxe em todos os supermercados do planeta. Mas, que seja, chega disso!

Vou desligar o automático e prestar mais atenção em tudo que me cerca. Dá pra questionar um pouco mais o mundo. Chega, chega! É hora de olhar a mesma coisa por outro ângulo. Olhar outras coisas. Chega de rir das mesmas piadas, quero novos motivos pros risos! E renovar também as lágrimas. Sim, se chatear com as mesmas coisas não dá mais! Quero mandar novas pessoas pra patacapareu! As mesmas já não levam isso a sério. Renovar é preciso. E ficar acomodado na mesma vidinha de sempre, fazendo as mesmas coisas a tempos, não leva nem até a esquina.

Não é uma questão de mudar de identidade, perder suas características ou simplesmente abdicar das coisas que gosta. Se gosta muito da bendita pizza de peito de peru com catupiry, peça essa de uma vez! Se o supermercado ao lado da casa é melhor e mais conveniente, continue indo nele! Se o vizinho continua chato, continue mandando ele visitar a querida mãe! Mas o quanto de coisa que a gente perde por não querer ir de encontro ao novo, isso é verdade. Ou será que dá pra dizer que gosta mesmo de sorvete, se sempre pede só o de chocolate?

Vez em quando é bom largar o sedentarismo. Só não estou falando pra você deixar a rede numa tarde chuvosa de domingo. Não não, não é nada disso. Mas um bom sofá também tem o seu valor.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A chuva

Eu acho engraçado a minha relação com a chuva. Nasci na cidade onde a chuva tem hora pra cair, Belém do Pará. Eu sempre fui aquela pessoa que podendo, toma banho de chuva, costumo dizer que sempre morei em prédio mas fui criada em vila, então brincar na chuva fez parte da minha história!

Em Belém a chuva também é boa pra amenizar o calor e pra catar manga, qual o paraense já não fez isso?

Ai eu me mudei pra a terra da garoa. Aqui em São Paulo a chuva me parece mais triste, é uma chuva cinza… Achei inclusive, as pesoas mais irritadas pelo fato de estar chovendo.

E eu realmente sinto falta daquela chuvinha na hora do almoço com o sol brilhando. Onde a minha mãe sempre dizia que sol e chuva era casamento de viúva. Acho que aqui em São Paulo as viúvas não casam.

Nasci respirando água, na cidade onde quente e úmido não é só a temperatura, é oestilo de vida. É vim pra cidade da poluição, saí da selva amazônica pra Selva de pedra.

E a chuva? A chuva não é só um fenômeno climático, é parte da lembrança boa que Belém deixa.